sexta-feira, 6 de junho de 2008

Gangues juvenis: um só olhar para a América Central

Ao longo da última década, as gangues juvenis ganharam especial relevância na América Central, se convertendo em um problema de segurança pública e em uma preocupação para governos e população.



Para responder a uma demanda por mais conhecimento sobre o assunto na região e proporcionar uma atuação sólida, com base empírica, foi realizado o estudo “Maras y pandillas, comunidad y policía em Centroamerica.”, financiado pela Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Internacional (Asdi) e pelo Banco Centroamericano de Integração Econômica (BCIE).



“Nosso objetivo é facilitar uma discussão política mais ampla e propositiva”, afirma o sociólogo e diretor do projeto José Alberto Rodríguez Bolaños. O estudo busca contribuir com políticas e ações eficientes, tanto no que diz respeito à necessidade de enfrentar a situação atual, quanto no que se refere à prevenção.



O diretor do projeto conta que foram utilizadas diversas técnicas de investigação, como questionários, entrevistas detalhadas, instrumentos psicométricos e observação. Com isso, o pesquisador obteve informações de mais de três mil pessoas de diferentes setores, entre eles ex e atuais membros de gangues, policiais, jovens em situação de risco, vítimas, familiares dos envolvidos, empresários, formadores de opinião e integrantes do poder judicial.



“A pesquisa usou os mesmos instrumentos de investigação para Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica. Isso é particularmente importante, pois permite que pela primeira vez se faça uma comparação justa entre esses países”, assinala Bolaños.



Perspectiva sistêmica



Outra particularidade do estudo foi a análise sistemática de toda a informação, “o que permite uma visão integral do fenômeno”, como observa o sociólogo. Dividida em diversos capítulos, a pesquisa mostra como as maras (gangues juvenis, o nome é uma alusão às formigas marabuntas) chegam a constituir comunidades que cobrem uma série de necessidades afetivas dos jovens que a elas se unem, além de ajudá-los a construir uma identidade que lhes permite dar sentido a suas vidas em contextos limitados de desenvolvimento pessoal.



“Apresentamos dados sobre a organização desses grupos, o papel das mulheres neles e seus processos de adaptação ao entorno. Além disso, fizemos uma revisão das diferentes políticas repressivas que foram adotadas em vários países da região”, afirma Bolaños.



Em relação às diferentes atividades das quais os membros das maras participam, o estudo comprova que eles não se envolvem apenas em atividades delitivas. “Particularmente interessante é que alguns desses jovens têm trabalhos legais remunerados”, observa Bolaños.



O pesquisador ressalta que os mareros ocupam boa parte de seu tempo com atividades comuns de sua faixa etária. “Entretanto, é evidente que há uma predisposição para atividades violentas, venda de drogas no varejo e extorsão.”



O estudo também analisa como as atividades das gangues afetam as comunidades e as famílias desses jovens. “Nesse sentido, fica evidente que é uma situação complicada, já que os membros das gangues formam laços afetivos e instrumentais com os membros das comunidades e suas famílias, apesar de suas atividades também terem conseqüências nocivas para estes”, diz o pesquisador. Para ele, isso explica a mescla de temor e compaixão que existe nessas comunidades em relação a esses jovens.



Polícia, comunidade e gangues



Em relação ao Estado, a pesquisa revela insatisfação com a ação policial por parte dos membros das comunidades, dos jovens vinculados às maras e da própria polícia.



“Essa insatisfação está ligada, em muitos casos, à percepção de corrupção no corpo policial. Também se evidencia um clima de mútua desconfiança entre polícias e membros da comunidade”, diz Bolaños. Para o sociólogo, há necessidade de um enfoque mais preventivo, já que todos esses aspectos limitam a capacidade de ação da polícia.



Finalmente, em relação à quebra de vínculo do jovem com a gangue, o estudo constata que, apesar dos mitos sobre as proibições em deixar as maras, existem caminhos possíveis. “Em muitos casos, a principal dificuldade consiste na escassez de ofertas alternativas ao jovem. A estigmatização e a falta de oportunidades são os maiores impedimentos”, lamenta Bolaños.


* foto cedida pela Rede Transnacional de Análise sobre Maras

Traduzido por Aline Gatto Boueri


Comunidade Segura.

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