domingo, 1 de junho de 2008

A escalada da violência

As marcas do episódio mais recente da violência que vem deixando um rastro de sangue pelo México ainda estão na casa de dois pisos em Culiacán, capital do Estado de Sinaloa. No local onde sete policiais federais foram assassinados na última semana, há marcas de balas por toda parte.

A guerra que envolve os cartéis de drogas vem transformando a realidade mexicana. Só em 2008, já fez 1.378 vítimas - um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 940 pessoas foram assassinadas. O mês de maio foi o mais violento dos últimos cinco anos, com 370 homicídios. O Estado mais atingido é Chihuahua, no norte, onde houve 150 mortes. Mas o problema se estende também a áreas como Sinaloa, Tamaulipas e Guerrero.

O tráfico cresceu e ganhou força graças ao volume de seus negócios. Autoridades dizem que 300 toneladas de cocaína vindas da Colômbia passam pelo México em seu caminho para os Estados Unidos a cada ano. Segundo os americanos, 90% da cocaína que entra em seu território vem deste vizinho. Na tentativa de se contrapor ao superior poder de fogo dos barões do tráfico, o governo mexicano usa as armas de que dispõe - além de policiais federais, o exército também foi acionado. Mas isso não tem impedido um verdadeiro banho de sangue.

- Eles abriram fogo de todos os lados. Atiraram pelo menos cinco granadas, nos atacaram com armas de calibres superiores - relatou o coordenador das tropas, Rodolfo Cruz López, sobre o confronto em Culiacán.

A ação foi atribuída ao Cartel de Sinaloa, que domina o tráfico no Estado. Na cidade de mais de 600 mil habitantes, a violência ganhou forma nas batalhas entre gangues rivais, assassinatos de policiais e emboscadas nas ruas - transformando a vida em um verdadeiro inferno. A maioria das pessoas admite que os nomes dos líderes do tráfico local são conhecidos, mas o medo impõe a lei do silêncio.O mecânico Wilfredo Valenzuela, 35 anos, afirma que ninguém "mexe com eles". A presença de forças de segurança - reforçada em 200 homens só na última semana - é vista com bons olhos. Mas os moradores temem o que vai acontecer quando a polícia deixar a cidade.

- O problema vai voltar e nós ficaremos do mesmo jeito que estávamos antes - diz a zeladora Alma Rosa Camacho López, 42 anos.

A polícia se transformou em alvo dos cartéis - de uma lista de 22 pessoas marcadas para morrer, sete já foram assassinadas - desde que o presidente Felipe Calderón transformou o combate ao tráfico em uma das principais metas de governo. Ele investiu na renovação e na profissionalização dos policiais, afastando os corruptos, que colaboravam com os cartéis. Para o procurador-geral da república, Eduardo Mora Medina Icaza, ainda que não pareça, a luta contra o narcotráfico "está sendo ganha". O exército continuará sendo usado neste embate por pelo menos mais dois anos. Especialistas, porém, criticam a ausência de um serviço de inteligência e de estatísticas.

- Sem colocar um ponto final nos negócios dos barões, eles usarão todo o dinheiro para responder com mais violência contra o governo - opina Samuel González, ex-agente do alto escalão de combate ao crime organizado.


Zero Hora.

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