terça-feira, 3 de junho de 2008

Egípcios sofrem com fome devido à alta dos alimentos

Com metade da população nas proximidades da linha da pobreza, o Egito é um dos países mais afetados pela alta mundial dos preços dos alimentos.

Pelas ruas da capital egípcia, não é difícil encontrar pessoas que dizem estar passando por dificuldades devido à crise dos alimentos.

Apesar de ser pouco depois das 19h de uma quarta-feira, a vendedora ambulante Soad Abd-el Halib afirma que ainda não fez nenhuma refeição naquele dia.

"Não comi nada. Costumava comer duas vezes por dia, mas agora não", diz ela, que prossegue tentando vender doces em uma rua do bairro de Shobra, na zona norte do Cairo.

"No ano passado a situação estava bem melhor. Agora não como mais carne nem frango", afirma ela.

Aparentando ter idade para se aposentar, Halib afirma que continua trabalhando porque cinco pessoas em sua residência dependem financeiramente dela.

Batata frita

"Eu costumava comer carne uma vez por mês, mas ainda não comi este ano", diz Nura Ahmed.

Ela conta ter sete filhos, dois deles casados, mas desempregados.

Nura diz que todos eles sobreviviam apertado com as cerca de 200 libras egípcias que o marido ganha mensalmente.

Nesses últimos tempos, de inflação e falta de pão, o segredo passou a ser comer quase que exclusivamente batatas fritas, afirma ela.

"As pessoas estão comendo bem menos", afirma Mohamed Abdel Saed, vendedor de sanduíches populares de falafel.

"Há alguns meses, eu vendia cerca de mil sanduíches por dia. Agora, vendo menos da metade disso", diz ele.

Pessimismo

As causas da crise enfrentada pelo Egito podem variar, dependendo de quem analisa a situação.

Algumas correntes de pensamento culpam o aumento do preço do petróleo, outras, os biocombustíveis. Existem ainda os que responsabilizam países como China e Índia por estarem consumindo mais comida.

Independentemente de quem seja o culpado, existe no ar uma sensação pessimista de que a situação não deve melhorar no curto prazo.

"Não acho que os preços vão cair ou que as pessoas passem a ganhar mais", afirma o comerciante Saed.

Infelizmente, para mais da metade dos egípcios, as análises parecem concordar com ele.

"Mesmo se não existirem problemas de produção, a alta de preços que observamos deve continuar", afirmou o professor de economia Geoff Bendon, da Universidade da Carolina do Norte, ao jornal egípcio "Daily News".

Falando ao mesmo jornal, Adel Beshai, professor de economia da Universidade do Cairo, afirma que a crise atual deve durar mais alguns anos.

"Essa crise é mais séria do que as anteriores", disse ele.


BBC Brasil

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