domingo, 22 de junho de 2008

Diferentes carreiras em que é grande a exigência de um diploma de pós-graduação

Quando saiu da faculdade de odontologia há cinco anos, a cirurgiã dentista Andréia Miranda, de 28 anos, até chegou a abrir seu consultório. Mas logo esbarrou numa realidade de mercado: precisava se especializar. Diferentemente do que acontecia até o fim dos anos 80, hoje é o próprio paciente que exige que o profissional se aprofunde em determinada área, diz ela. Em outros setores técnicos, como a engenharia e a física, o aquecimento do mercado também exige profissionais cada vez mais especializados.

O caso da odontologia é o mesmo da medicina, fisioterapia, educação física e de outras carreiras biomédicas, em que apenas a graduação não é mais suficiente para ingressar no mercado de trabalho. Segundo o gerente de Remuneração da Catho, Mario Fagundes, nessas áreas "a pós-graduação é fundamental no direcionamento da carreira, pois define o campo de atuação do profissional":

- A demanda por gente qualificada também no setor de óleo e gás, metalurgia e construção civil é enorme e dificilmente as empresas encontram alguém entre os que acabaram de sair da faculdade. Então, buscam o pós-graduado.

Diretor da Michael Page no Rio, Ricardo Guedes sugere pós-graduação também para quem deseja atuar nas áreas naval e tributária:

-- As faculdades de direito não dão base para se trabalha com tributos. E, como há apenas dois cursos de engenharia naval no país, profissionais de outras áreas se especializam para atender ao mercado.

Nos consultórios, está acontecendo a mesma coisa. E, segundo Andréia, o paciente agora quer, inclusive, discutir as soluções para o seu problema.

- Com a difusão da internet, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com o diagnóstico do seu problema quase pronto e, por isso, a cobrança em cima da gente é maior - afirma a dentista, pós-graduada em restauração e radiologia oral.

Já a presidente da Comissão de Educação do Conselho Regional de Fisioterapia do Rio de Janeiro, Solange Canavarro, atribui a exigência do mercado à dimensão que a profissão atingiu. Principalmente a partir do início da década de 1990, com o crescimento dos campos de atuação e do grau de complexidade das funções:

- A nossa responsabilidade é tão grande que um erro pode comprometer a qualidade de vida de uma pessoa. O fisioterapeuta trabalha muitas vezes com situações limites, junto a pacientes neurológicos, paraplégicos, por exemplo, o que exige habilidades manuais que só vêm com o tempo e com cursos de aperfeiçoamento. Sem a pós, ele até consegue trabalho, mas estará sempre subempregado.

Na medicina, por mais que o investimento em cursos de qualificação profissional seja fundamental, há dificuldades para fazer especialização, segundo Luiz Fernando Correa, chefe da Emergência do Hospital Samaritano do Rio:

- Ainda que o mercado exija médicos bem preparados, os hospitais não abrem oportunidades de residência para todos os formandos. Eles têm a opção de fazer cursos de especialização oferecidos por instituições particulares, mas nem todos são confiáveis. A questão da medicina é que ela não é um carreira, são várias, tamanha as especialidades possíveis.

Cursos e congressos devem ser feitos ainda na faculdade

O consultor Mario Fagundes destaca que, dependendo da carreira, a pós-graduação aumenta tanto a oportunidade de entrada no mercado que se torna um diferencial. É o caso do setor de óleo e gás. Thiago Moraes, engenheiro eletrônico recém-formado, é um exemplo: de olho numa oportunidade na área, engrenou numa pós de produção, transporte e refino de petróleo, financiada pelo Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), do governo federal.

- Ás vezes, nem só a especialização basta, porque as empresas ainda cobram experiência profissional - lamenta Thiago, que trabalha numa fábrica de painéis elétricos em Del Castilho enquanto espera uma chance em óleo e gás.

Também no campo da física, a pós-graduação tem se tornado cada vez mais fundamental. Segundo a coordenadora do programa de pós-graduação stricto sensu da Universidade Federal Fluminense (UFF), Suzana de Oliveira, o mercado da profissão ainda está muito concentrado na área acadêmica, que requer mestrado e doutorado:

- Mesmo que o profissional não se torne pesquisador ou professor, o mercado pede que ele se especialize.

Para a professora de educação física e personal trainer, Thaís Ventura, de 25 anos, pós-graduada em treinamento esportivo, mesmo durante a faculdade é importante fazer cursos e ir a congressos. No caso dela, que participou da segunda edição do programa Big Brother Brasil, inclusive, nem a exposição na mídia não facilitou as coisas. Para abrir espaço profissional, correu atrás da especialização assim que deixou a universidade:

- Não se consegue entrar numa academia grande, hoje, sem ter ao menos uma pós. E mesmo o mestrado não é mais exclusividade de quem quer seguir a carreira acadêmica, ele passou a ser importante para o profissional que atua nas academias, como eu. Será o meu próximo investimento - conta a niteroiense, que trabalha nas academias A!Body Tech, do Leblon, e Halter N'ativa, em Niterói.

Thaís acredita que a multiplicação dos cursos de educação física tem formado profissionais despreparados, que mal conseguem lidar com situações simples do dia-a-dia da carreira:

- Ter uma pós-graduação no currículo não é só cartaz. As aulas em treinamento desportivo foram básicas para a preparação das minhas aulas de spinning. Não podia passar qualquer coisa para os alunos.


O Globo.

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