sexta-feira, 13 de junho de 2008

Banco Mundial reprova hospitais brasileiros por ineficiência e má gestão

Especialistas do Banco Mundial (Bird) reprovaram os hospitais brasileiros públicos e particulares. Segundo o relatório "Desempenho Hospitalar Brasileiro", lançado nesta quinta-feira, em São Paulo, a rede de hospitais do país é ineficiente, gasta mal os recursos, encarecendo os custos hospitalares. Eles defendem que o modelo sofra profundas reformas. Depois de cinco anos de estudos, os pesquisadores do Bird Gerard La Forgia e Bernard Couttolenc apresentaram o "escore de eficiência" dos hospitais: de uma escala de 0 a 1, a nota que vigora no Brasil é um amargo 0,34.

- Está claro que, para o SUS (Sistema Único de Saúde) cumprir o seu papel constitucional, ele precisa de mais dinheiro. Todos os recursos adicionais são bem-vindos, mas não adianta apenas ter recursos a mais. É preciso alocar melhor. Gastar bem o dinheiro. É preciso haver uma intervenção para melhora de qualidade - disse o professor Couttolenc, um dos autores do relatório, referindo-se a CSS (Contribuição Social para a Saúde), cuja aprovação tramita no Congresso.

Dos 7.426 hospitais brasileiros, apenas 56 têm selo de qualidade. Desses, 43 estão no Sudeste, oito no Sul, dois no Centro-Oeste e três no Nordeste. Na região Norte, não há um único hospital com certificação de qualidade.

Segundo o Bird, o Brasil tem o melhor marco regulatório da América Latina para o licenciamento de um hospital, no entanto, os hospitais não cumprem com a legislação. A diferença entre um hospital certificado e outro sem certificação é gritante e pode ser mortal para o paciente: a mortalidade cirúrgica chega a ser três vezes maior em um hospital sem selo de qualidade do Ministério da Saúde.

Outro dado apontado no relatório, que foi divulgado para gestores de hospitais durante a Feira Fórum Hospitalar, realizada em São Paulo, revela que 52% dos hospitais fora de São Paulo não têm critérios sobre diagnósticos para controle de vigilância contra infecção hospitar ou perdeu os dados sobre isso.

- No sistema brasileiro de saúde, o centro do universo são os hospitais. É a maior fonte de gastos do sistema, mas há pouca informação sistemática sobre gastos e desempenho. São serviços muito caros e nem sempre contribuem para a boa saúde da população - analisou Gerard La Forgia, o principal especialista em Saúde do Banco Mundial.

A transformação do hospital nesse centro nervoso da saúde causa um desperdício de dinheiro porque o cidadão acada sendo atendido em um equipamento público ou privado de alta complexidade quando, na verdade, precisaria apenas de um procedimento médico simples. Dos R$ 196 bilhões gastos em saúde em 2006, 67% foram para os hospitais. A média da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 55%. Desse total, cerca de 30%, ou R$ 10 bilhões, foram gastos em internações que não requeriam cuidados hospitalares.

Para La Forgia, há seis grandes observações que podem resumir seus cinco anos de pesquisa no sistema hospitalar brasileiro:

- Os hospitais são muito caros e ineficientes. É um problema sistêmico, não unicamente um problema do SUS. A maioria dos hospitais é ineficiente em escala e produtividade. Poderia fazer muito mais com os recursos de que dispõe. Os modelos organizativos ou de governança, seja público ou privado, que têm mais autonomia, com responsabilização dos gestores, são superiores em termos de desempenho do que os demais. Os contratos e sistemas de pagamento feitos com o hospital fazem pouca pressão para vincular os quesitos de qualidade, desempenho e produção. Apesar de o Brasil ter um excelente marco de regulação para licenciamento de hospitais, isso tem sido pouco implantado nos hospitais. Finalmente, falta informação para mensurar desempenho e custos.

Os dados do estudo serão encaminhados aos gestores dos hospitais brasileiros e sobretudo ao Ministério da Saúde.
Leitos ociosos

Os pesquisadores apontaram que a taxa de ocupação de leitos dos hospitais brasileiros é de 37%.

- Esse índice é um levantamento do próprio Ministério da Saúde, mas é feito no dia 31 de dezembro de cada ano - disse Couttolen, destacando que, com isso, pode haver distorsões:

- Se pensarmos de forma muito simplista, teríamos uma taxa de ociosidade de 60%. Mas nem todos esses leitos têm de ser fechados. É preciso haver uma política mais ampla de racionalização. Até porque muitos desses leitos não estão em condições de ser ocupados. Em muitos casos, não há nem médicos para o atendimento do hospital. Há leitos que precisam ser fechados, mas isso é preciso ver de caso a caso - ponderou.

No escore de eficiência, de acordo com os especialistas, quanto maior o hospital brasileiro, mais ele obteve boa pontuação. Os hospitais que obtiveram nota superior a 0,45 têm mais que 250 leitos. Os que têm 99 leitos, ficaram abaixo de 0,35. Do total da rede nacional, foram testados 488 hospitais.

Segundo o especialista Couttolenc, os nomes das instituições não foram divulgados. Foram usados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os hospitais foram identificados apenas por números.


O Globo.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog