sexta-feira, 13 de junho de 2008

Artigo: Juventude entregue às ruas, por Cristiane Vieira Chagas*

É impressão, ou aumenta o número de crianças e adolescentes nas ruas? Pela sobrevivência, os jovens são levados a se colocarem cada vez mais visíveis aos olhos dos cidadãos e, valendo-se da criatividade e do ímpeto juvenil, ganham a cidade, as esquinas. Em meio a transeuntes e motoristas assoberbados, meninos e meninas criam, no livre espaço da via pública, seus shows de malabares, dos quais tiram o sustento. São jovens que, a cada vidro de carro que insistem em limpar, clamam para serem vistos com respeito.

Sem querer buscar culpados ou vítimas, precisamos aprofundar as reflexões, necessitamos avançar no entendimento e no combate a essa triste realidade brasileira, impedindo que se siga desqualificando a juventude ou simplificando sua complexa condição, para reduzir os jovens a vagabundos.

É certo afirmar que, nos últimos anos, os índices de analfabetismo no Brasil têm diminuído e as políticas voltadas à assistência da criança e do adolescente têm aumentado. Mas é preciso maior eficácia nos projetos e nas políticas públicas permanentes e prioritárias.

É preciso mudar o foco, e não enxergar só o fato, mas buscar as causas que o geraram. É necessário olhar para esses jovens marginalizados e ver sujeitos individuais, com uma gama de questões subjetivas e coletivas que merecem ser consideradas.

Olhando assim, poderemos visualizar vítimas de um contexto social perverso, que trazem consigo histórias de frustrações, violências, fracassos e invisibilidade. Então, seremos mais críticos - antes de apoiar medidas punitivas, severas e ineficazes, que atacam quem apenas resiste - e nos voltaremos à preventividade desses jovens nascidos e criados em um sistema social que produziu sua pobreza e exclusão.

Para isso, é necessário enxergar e ouvir os jovens, denunciar e cobrar mudanças, em vez de ficar à espera de grandes heróis. Sejamos nós os heróis que transformam o cotidiano, para que esses verdadeiros mártires consigam permanecer de pé diante da realidade que os construiu.

Tudo que escrevi pode ter sido mera impressão, mas tenho certeza, quando olho para as roupas maltrapilhas e os olhos sofridos das crianças e jovens nas ruas, de que há muito a ser feito para melhorar a realidade. O grande passo está na vontade política e na humanidade de cada um e de cada uma de nós.

*Professora, coordenadora do Instituto Salesiano de Pesquisa sobre Crianças e Adolescentes (Insapeca)


Zero Hora.

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