quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ministério Público investiga testemunha no caso Dorothy Stang

O Ministério Público do Pará instalará um inquérito civil para investigar se Amair Feijoli da Cunha, o Tato, condenado e preso por intermediar o assassinato da missionária Dorothy Stang em 2005, mudou seu depoimento no caso em troca de aproximadamente R$ 100 mil.

Tato depôs na última segunda-feira, isentando o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, de ser o mandante do crime. Bida acabou inocentado anteontem da acusação de homicídio duplamente qualificado --ele era suspeito de ter oferecido R$ 50 mil para que Dorothy Stang fosse morta, em 12 de fevereiro de 2005.

Para Edson de Souza, promotor que liderou a acusação, o depoimento de Tato foi essencial para a absolvição por 5 votos a 2, no Tribunal do Júri.

Em seu próprio julgamento, em abril de 2006, quando foi sentenciado a 17 anos de prisão por envolvimento no crime, Tato incriminou Bida, dizendo que ele de fato o procurou para que conseguisse alguém que matasse a missionária.

Mas, na última segunda-feira, como testemunha, Tato reformulou o que havia dito há pouco mais de dois anos. Além disso, confirmou a suposta veracidade de um vídeo apresentado pela defesa no Tribunal do Júri. A gravação, feita em outubro de 2006, já o mostrava dizendo que Bida não havia ordenado morte nenhuma.

Na tribuna da última segunda-feira, chorando, ele disse que havia então sido coagido a dizer que o fazendeiro havia sido o mandante e que poderia agora dizer a verdade pois havia se tornado evangélico.

A suspeita da promotoria provém do fato de que, ainda em 2006, nas vésperas do julgamento de Tato, sua mulher, Elizabete Coutinho, afirmou em juízo ter recebido, pelo pagamento de dívidas, cerca de R$ 100 mil de Bida.

"E, depois que o Tato foi condenado, ele não tinha mais nada a perder", afirmou o promotor Souza. "Por que não mudar seu depoimento em troca do dinheiro?", disse ele, acrescentando que poucos meses depois o vídeo em que o intermediário inocenta Bida foi gravado.

Em entrevista à Folha, Bida confirmou que fez o pagamento naquela ocasião e que ele foi parcelado e negociado por meio de um de seus irmãos. Mas afirmou que o dinheiro foi para pagar bois que Tato havia lhe passado como parte de pagamento por terras da região de Anapu (PA).

"Os promotores até diziam para ele [Tato] que, por isso, deveria mesmo fazer a delação premiada, porque nunca mais iria receber o meu dinheiro", disse Bida.

Souza se disse surpreso pelo aparecimento do vídeo, anexado aos autos apenas na semana passada, e que até então desconhecia sua existência. A gravação do vídeo, feita com o intermediário ainda preso, não teve autorização judicial.

Também questionou o porquê de o vídeo não ter sido mostrado em maio de 2007, quando, em seu primeiro júri, Bida foi condenado a 30 anos. Para o promotor, isso pode estar relacionado a uma suposta negociação com Tato.

O advogado do fazendeiro afirmou que já conhecia a gravação e que ela não foi usada em 2007 porque, durante acareação naquele julgamento, Tato afirmou a inocência de Bida. Souza refutou: "Ora, a confirmação da culpa de Bida por Tato foi então um dos principais motivos para ele ter pego a pena máxima".

Apesar do resultado contrário, o promotor, que já participou de mais de 500 sessões do Tribunal do Júri, não colocou em dúvida a imparcialidade dos jurados, afirmando que eles apenas reagiram ao que foi exposto.


Folha de São Paulo.

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