segunda-feira, 26 de maio de 2008

Jovem que matou seqüestrador diz que sua atitude não é exemplo

Ele fingiu tomar tranqüilizante oferecido pelos criminosos e depois reagiu.
Primo de terceiro grau do rapaz planejou o seqüestro.


Ao lado da família, o rapaz de 21 anos que matou o seqüestrador reconhece: sua atitude extrema não deve servir como exemplo. “Eu queria voltar para minha família, ficar com a minha esposa, a qualquer custo”, diz Pedro Souza.

Logo que o caso veio a público, Pedro preferiu o anonimato. O pai explica por que o filho decidiu mostrar o rosto em entrevista ao Fantástico. “Na realidade nós não somos criminosos, somos a vítima”, disse.

Pedro foi seqüestrado por dois homens em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Era noite de sexta-feira, 16 de maio. Os bandidos o obrigaram a entrar em um carro e a pôr óculos com fita adesiva. Depois de sete horas de viagem, vítima e seqüestradores pararam em um canavial, na região de Americana.

“Passei o dia inteiro nesse canavial, até 21h. Acho que eles estavam procurando um lugar para ser o cativeiro”. Pedro foi levado para uma casa, onde ficou cerca de 24 horas.

“A certeza que eu tinha era de que eu ia morrer. A todo o momento eles estavam falando que eu ia morrer”. Segundo a polícia, Nilson de Matos, um primo de terceiro grau do rapaz, planejou o seqüestro. Ele acabou preso um dia depois que o crime foi esclarecido. No fim do ano passado, quando cumpria pena por roubo, Nilson tinha pedido ajuda à família.

Emprego

“Disse que tinha dois anos para cumprir, que ele conseguiria cumprir no regime semi-aberto, mas para fazer isso ele tinha que ter um emprego. Falei que tudo bem, que ia arrumar um emprego”, conta Antônio Souza, pai de Pedro.

“Ele ia também no cativeiro. Gritava e sempre falava que não tinha mais como eu voltar, eu ia ser morto de qualquer jeito, indiferente de dinheiro ou não. Acho que ele falava isso por saber que eu, se saísse com vida, ia falar quem era”, afirma Pedro.

Pedro diz que, em certo momento, Nilson saiu do cativeiro. Na casa, ficaram dois homens e uma mulher. O rapaz não foi amarrado. Conta que os bandidos lhe deram um tranqüilizante, para que dormisse logo. “Fiz que tomei, mas não tomei o remédio, ficou na minha mão e eu joguei no canto.”

Quem acabou dormindo foi um dos seqüestradores: Robson Barbosa, que também prestou serviços para a família da vítima. “Eu dei uma olhada assim para o lado e eu vi aquele machado meio que atrás do guarda-roupa, então foi uma coisa que estava próxima da minha mão e foi o que eu consegui pegar.”

O rapaz deu três golpes e pegou a arma do criminoso, que morreu na hora. Pedro diz que foi até a cozinha, dominou os outros dois seqüestradores, os colocou no carro e procurou a polícia. Naquele momento, foi difícil alguém acreditar em uma história dessas.

Prisão

“Ele gritou para a gente: ‘Eu sou vítima de seqüestro, mas eu estou armado’. Mas cadê o seqüestrador? ‘Acho que acabei de matar ele.’ Disse: ‘Você está preso até a gente averiguar melhor essa situação’”, recorda o guarda civil Charles Renato da Costa.

Para esclarecer imediatamente o caso, o delegado agiu com rapidez. Na presença dos dois suspeitos presos e da vítima, foi até o local e reconstituiu os fatos. Todo o trabalho foi registrado pelos peritos criminais de Americana.

Mas a certeza mesmo de que Pedro era vítima de seqüestro só veio quando um dos policiais ligou para a mulher dele. “Eu falei: ‘Se ele está do seu lado, eu quero falar com ele’. Eu nem reconheci a voz dele. ‘Fala uma data, alguma coisa que só a gente saiba’. Aí ele falou a data do nosso primeiro beijo. Aí eu comecei a chorar e o pessoal viu que era verdade mesmo”, lembra Yasmim Souza, mulher de Pedro. “Não aconselho ninguém a fazer o que eu fiz. Mas vamos lutar para recuperar dessa fase que a gente está passando e vai dar tudo certo”, finaliza Pedro.


G1.

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