quinta-feira, 8 de maio de 2008

Fome e desespero em Mianmar

Sem água e sem comida, sobreviventes demoram para receber ajuda e estão saqueando lojas

A tempestade já se foi, mas a cada dia que passa fica claro que o pior ainda está por vir em Mianmar. A cifra de mortos segue crescendo - oficialmente são pelo menos 22.464 pessoas, mas uma diplomata do governo disse que o número pode chegar a 100 mil - , e os sobreviventes lutam desesperadamente para conseguir água potável e comida. Ontem, moradores famintos saquearam lojas que reabriram as portas no delta do Rio Irrawaddy, a região mais devastada.

- Muita gente está ficando doente. Tudo está debaixo de água, e não há nada potável para beber - relatou o diretor da ONG Save the Children em Yangun, Andrew Kirkwood.

Para muitas pessoas, a água de coco tem sido o único alimento disponível. Sobreviventes também tentam chegar a áreas não inundadas a bordo de botes em que lençóis usados fazem às vezes de vela. Além da fome, o caos em que a comunidade está mergulhada também aumenta o risco de doenças - quem resistiu à força do ciclone tem agora de conviver com os corpos que começam a emergir.

Estimativas indicam que 24 milhões de pessoas, quase a metade da população de Mianmar, tenham sido afetadas de uma forma ou outra pelo ciclone Nargis. Destas, a Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que 1 milhão tenham ficado desabrigadas. Especialistas prevêem ainda que o impacto do Nargis será sentido por muito tempo, já que a região onde ficam as plantações de arroz foi devastada.

A junta militar que governa o país tem sido acusada de atrasar e dificultar a chegada de ajuda humanitária. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ontem que o governo de Mianmar facilite a entrada de organizações internacionais. Depois de árduas negociações, os militares autorizaram uma ponte aérea do Programa Mundial de Alimentos até a região da catástrofe. Índia, EUA, Indonésia, China e União Européia, entre outros, também já enviaram ou se comprometeram a mandar ajuda. Ainda hoje, um grupo de especialistas em desastres receberá permissão para entrar no país, avaliar a situação e determinar que tipo de assistência deve ter prioridade.

Itens essenciais, como pastilhas para purificar a água, mosquiteiros e remédios, começaram a ser distribuídos. Nas zonas mais inundadas, só era possível chegar de botes e, por isso, os helicópteros não conseguiam fazer a distribuição dos mantimentos. Voluntários dizem que o governo quer que funcionários que já estão no país, e não estrangeiros, entreguem a ajuda.


Zero Hora.

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