quinta-feira, 8 de maio de 2008

Artigo: Atire a primeira pedra quem jamais errou, por Maria Lúcia Costa Malheiros*

Assistindo domingo passado à entrevista do jogador Ronaldo Nazário, em programa de conhecida rede nacional de televisão, deparei, penalizada, com um homem jovem, de aparência desolada, olhar tristonho, fornecendo "explicações" ao povo brasileiro, em razão de sua malfadada iniciativa, saído de uma boate, em fazer um "programa" em um motel.

Há controvérsias sobre os fatos: se Ronaldo buscava "mulheres" e foi efetivamente enganado ou se sabia que se tratava de "travestis".

Mas isso não está aqui em questão.

Quantos homens, inclusive "respeitáveis cidadãos", bem-sucedidos profissionalmente e, não raro, "casados", já não cometeram o mesmo "deslize" e depois retornaram para suas casas e os braços da família com a "moral" intacta, sem sofrer o verdadeiro "massacre" que Ronaldo.

E Ronaldo é um homem solteiro!

Manchetes sensacionalistas, especulações, deboche, comparações com o jogador portenho Diego Maradona, previsões funestas de "derrocada" na carreira etc.

Quantas dessas pessoas que ora se regozijam em atacar a imagem de Ronaldo, não cometem "equívoco" semelhante, seja na calada da noite ou em cálidas matinês, quando afirmam estar "trabalhando"?

Aliás, quantos "senhores de respeito" possuem vida dupla?

Porque não são famosos, não têm que dar "o exemplo"?

Questiono: no caso, que exemplo?

Trabalho há vários anos na área de família, assim posso afirmar, em razão da vivência adquirida, a imensa falibilidade e fraqueza dos homens, não raro escondidos sob a proteção dos sagrados laços do matrimônio.

Ronaldo Fenômeno, que nos regalou com gols e dribles espetaculares, ora, porque viveu um infeliz momento pessoal, que nem chamaria de "fraqueza", porque a cada um cabe suas escolhas, terá sua imagem para sempre maculada, porque se envolveu com "travestis", numa noitada.

Se fossem "prostitutas", leia-se, mulheres, certamente que o escândalo que se abateu sobre Ronaldo seria de magnitude infinitamente menor, aceito pelos machões de plantão, mesmo que alguns enrustidos, para, logo após, ser naturalmente esquecido.

Tal constatação somente revela a hipocrisia desses seres que se denominam racionais e humanos.

Ronaldo Nazário, antes de ser o "Fenômeno", é um homem passível de fraquezas - até pelo momento pessoal que vive, e, como todos nós, ir em busca de seus impulsos sexuais, sejam eles de natureza homo ou heterossexual.

Quem somos nós, cheios de defeitos, para julgarmos um homem que, a bem da verdade, não fez mal a ninguém?

As preferências sexuais de uma pessoa, e isso é um tanto óbvio, não denotam seu caráter, o que, aliás, parece-me que Ronaldo teve de sobra, não só ao não sucumbir à chantagem de que foi vítima por parte de pessoas inescrupulosas, mas também ao dar a face a bater, expondo-se na mídia, narrando o ocorrido, desculpando-se e ainda tendo a coragem de afirmar que segue com planos para o futuro.

Bofetada de luvas na malícia e na mediocridade!

Parabenizo Ronaldo pela "atitude de homem" que teve, de vir a público enfrentar as especulações de uma entrevista, expor sua vida pessoal e, talvez por um viés romântico que ainda teima em persistir em minha natureza, acredito que existam outras pessoas com o mesmo entendimento, e não somente "seres com pele de rinoceronte na alma" como afirma Arnaldo Jabor, mas com delicadeza e sensibilidade para entender e apoiar seu semelhante e suas fragilidades.

*Advogada


Zero Hora.

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