sexta-feira, 25 de abril de 2008

Presidente do STF critica estudantes e sem-terra

Ministro Gilmar Mendes condena os movimentos sociais que atuam ''na fronteira da legalidade'' e invadem propriedades públicas e privadas.

Na primeira entrevista como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes reforçou ontem as críticas à invasão de propriedades públicas e particulares. Mendes condenou os movimentos sociais que, como disse no discurso de posse, atuam ''na fronteira da legalidade'' e citou o protesto dos alunos da Universidade de Brasília (UnB), que ocuparam a reitoria durante 15 dias, até a renúncia do reitor Timothy Mulholland.

A invasão, segundo o presidente, ''é correta como protesto''. ''Mas impedir o funcionamento da reitoria não me parece correto. Vale para qualquer movimento. Se se trata de invasão de propriedade, de destruição de bens, de impedimento de afazeres de órgãos públicos, me parece que ultrapassam os limites da Constituição. O Judiciário há que fazer valer sua autoridade'', declarou o ministro.

Mendes explicou por que considera a invasão de propriedades e o impedimento do funcionamento de instituições públicas uma afronta ao Estado de Direito: ''No Estado de Direito não existem soberanos. Se alguém pode fazer o que quer, torna-se soberano e então não temos o Estado de Direito''.

Em uma referência indireta ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que tem liderado uma série de invasões no chamado Abril Vermelho, Gilmar Mendes lembrou o massacre de Eldorado de Carajás (PA). Em abril de 1997, uma ação da Polícia Militar causou a morte de 19 sem-terra. ''Ninguém quer tragédia, mas é preciso que regras básicas sejam respeitadas. O protesto é absolutamente natural, mas não pode haver comprometimento de atividades públicas nem lesão ao direito de outrem'', afirmou.

Dossiê

Embora não tenha comentado a elaboração de um dossiê dentro da Casa Civil sobre gastos sigilosos do governo Fernando Henrique, Gilmar Mendes repudiou o uso de informações secretas com fins políticos, no que chamou de novo patrimonialismo. ''Quem está no governo não é proprietário de informações a que tem acesso simplesmente por estar no governo. É a nova face do patrimonialismo''. Gilmar Mendes disse que ''oposição e situação não têm consenso, mas deve haver respeito às regras básicas''.

O presidente do Supremo reforçou a crítica ao excesso de medidas provisórias e cobrou também mais ação do Congresso. Mendes reiterou que as MPs são um instrumento necessário, mas lembrou que o trancamento da pauta do Legislativo faz com que o Congresso ''perca sua própria agenda''. O presidente do STF disse que fala de MPs com ''insuspeita autoridade'', já que foi subchefe da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso e que ''a auto-limitação na edição de MPs era extremamente difícil''.

O ministro disse estar certo de que haverá ''tensão'' entre Judiciário e Legislativo cada vez que o Supremo for chamado a decidir sobre matérias que deveriam ser objeto de leis específicas, mas não são. Em defesa do Parlamento, Mendes afirmou que a lentidão é resultado das divergências naturais entre situação e oposição. ''A atividade política é muito lenta porque é complexa e não significa que é errada. Quando se perde o critério de razoabilidade, vamos ser demandados e vai surgir esse tipo de tensão'', afirmou.


Estadão, 24/04/2008.

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