quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mãe pode estar envolvida em caso de mulher que ficou presa em um porão por 24 anos na Áustria

AMSTATTEN - A mulher do austríaco Josef Fritzl, Rosemarie, pode ser considerada suspeita pelo rapto de sua filha Elisabeth, que ficou presa em um porão, sendo estuprada pelo pai durante 24 anos , informou o "Jornal Nacional". A hipótese ainda não foi confirmada e o chefe do Escritório de Assuntos Penais do Sul da Áustria, Franz Polzer, afirmou na terça-feira que acredita na inocência da mulher. No entanto, a edição da noite de terça-feira do jornal revela que Rosemarie pode ter ajudado a manter a filha e três de seus netos durante uma viagem de Josef à Tailândia. Ela seria considera uma cúmplice silenciosa.

A prefeitura de Amstetten ainda não soube informar como o porão da casa de Josef não foi descoberto quando a obra da residência foi aprovada.

Cerca de 200 moradores da cidade, a pequena cidade no Sul da Áustria onde Josef construiu a sua "casa dos horrores", fizeram uma vigília à luz de velas na praça central. Na segunda-feira, a família do austríaco se reencontrou pela primeira vez desde o fim do caso, num momento que os médicos descreveram como "impressionante". Elisabeth deixou o porão onde estava trancada com três filhos e se reencontrou com três outros filhos, que haviam sido separados dela logo após o nascimento. Um sétimo bebê morreu no porão.

- Eles se reencontraram no domingo de manhã e foi impressionante como foi fácil pôr as crianças juntas. As crianças estão bastante bem - disse Berthold Kepplinger, diretor-médico da Policlínica Provincial da Baixa Áustria, em entrevista coletiva na terça-feira.

- Todos se encontraram no hospital (psiquiátrico onde passam por tratamento) ontem à noite. Foi um momento muito tocante, bastante dramático e emocionante para todos - informou uma fonte da polícia. - Houve lágrimas e uma das crianças que cresceu no porão estava com medo. Foi muito duro para eles. Eles não são tão articulados quanto os irmãos mas puderam se expressar, foi um momento feliz - completou. Felix, o mais novo, fez 6 anos e teve a sua primeira festa de aniversário, com torta e parabéns.

- O mundo parece pensar que Amstetten é uma cidade horrível, e que as pessoas da comunidade não se importam com as outras. Queremos mostrar que isso não é verdade - disse a organizadora da manifestação em apoio à família, Elisabeth Anderson.

Leopold Etz, da comissão de investigação, disse que as crianças encarceradas olharam para a rua com muita alegria. Exclamaram ao andar pela primeira vez de carro, ao ver a lua e ao sentir o vento, numa temperatura amena de 20 graus centígrados. Os seis filhos sobreviventes deverão receber identidades novas.

O ministro da Justiça do país apresentou na terça-feira um projeto que fortalece a "lei de proteção às vítimas", especialmente em casos de abuso sexual.

Elisabeth, de 42 anos, passou mais de metade da vida sem ver a luz do sol, ao lado da filha, hoje com 19 anos, e de dois filhos, de 18 e 5.

Duas outras meninas e um menino viviam na casa acima do porão com Fritzl e sua esposa, Rosemarie, que também teve sete filhos com ele.

Os três filhos que ficaram no porão sabem ler e escrever rudimentarmente. Kepplinger sugeriu que eles podem fazer o processo de recuperação numa escola da própria clínica.

Pai pode pegar prisão perpétua pelos crimes

Exames de DNA confirmaram que Fritzl, um engenheiro elétrico de 73 anos, já aposentado, era o pai dos seis filhos vivos de Elisabeth , segundo a polícia, que investiga se ele foi responsável pela morte do sétimo bebê.

Fritzl, que está preso, pode responder pelos crimes de omissão de socorro (pela morte do bebê), estupro, incesto e coação, podendo pegar prisão perpétua.

Ele compareceu na terça-feira a um tribunal regional e, segundo autoridades, nada declarou. Aparentava calma e foi colocado numa cela onde é monitorado para que não tente suicídio.

Elisabeth Fritzl diz que seu pai o atraiu para o porão em 1984 e a drogou e algemou para aprisioná-la. O pai, no entanto, informou que encarcerou a filha por 24 anos para livrá-la de drogas .

Seu destino veio à tona quando a filha de 19 anos adoeceu e foi hospitalizada. Os médicos então pediram que a mãe se apresentasse para dar detalhes de seus antecedentes clínicos.

A moça está na terça-feira em estado grave, mas estável, em coma induzido e respirando por aparelhos.

- Nossa paciente está num estado de grave risco, resultado da falta de oxigênio em algum momento entre quarta e sexta-feira, quando foi internada - disse o médico Albert Reiter.

Fritzl trouxe Elisabeth e os seus dois filhos restantes para fora do porão depois que a moça foi hospitalizada.

Ele alegou a Rosemarie, sua esposa, que a filha "desaparecida" havia decidido voltar para casa.

Elisabeth e seus três filhos eram mantidos num local que em alguns pontos não tinha mais de 1,70 metro de altura e continua uma cela acolchoada, segundo as autoridades.

Fotos mostram uma estreita passagem que levava aos cômodos - uma cozinha, com desenhos infantis nas paredes, um quarto de dormir e um pequeno banheiro com chuveiro.

Há dois anos, a Áustria já havia ficado chocada com a história da adolescente Natalia Kampusch , que passou oito anos presa num porão perto de Viena, até que conseguiu fugir. O seqüestrador se matou. Na segunda-feira, a jovem ofereceu ajuda à família de Elisabeth .


O Globo Online, 30/04/2008.

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