terça-feira, 8 de abril de 2008

(IN)SEGURANÇA - Muros altos incentivam ação de bandidos

Segundo pesquisa realizada em presídios do Estado, 71% dos criminosos preferem assaltar casas cercadas por muro; grades são mais eficientes, diz especialista.

Muros altos, câmeras e cercas elétricas: eis as principais medidas de segurança usadas para proteção doméstica. Mas serão mesmo as melhores soluções? A partir de uma pesquisa feita com 284 presos e em estudos dos perfis de casas e comércios assaltados em Curitiba, foi feito levantamento de quais os pontos frágeis na arquitetura dos imóveis. A surpresa está em descobrir que alguns itens de segurança, na verdade, facilitam a ação dos criminosos.

O coronel Roberson Luiz Bondaruk esteve em Arapongas nessa semana para ministrar palestra sobre Segurança na Arquitetura. Com o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), ele divulga ações simples que visam reduzir o índice de assaltos e arrombamentos. Em entrevista à FOLHA, Bondaruk traz dicas de como manter uma residência segura.

Quais os erros mais comuns na segurança de uma casa?

Um deles é o muro: 71% dos criminosos disseram preferir assaltar casas cercadas por muros, porque a visibilidade reduzida cria uma vantagem estratégica - permite que ele se aproxime sem ser percebido. Além disso, enquanto está agindo, ele não é visto por testemunhas que possam denunciar sua presença para a polícia.

A casa então não deve ser murada?

O ideal é que sejam usadas grades que permitam visibilidade de dentro para fora e de fora para dentro, principalmente quando os portões são ''cegos'', daqueles que obrigam as pessoas a irem até o portão ou porta toda vez que alguém bate. Aí ela acaba sendo rendida pelos assaltantes. Outro problema é a questão da iluminação: tanto a externa quanto a interna são insuficientes. Muitos mantêm a luz apagada à noite por economia. Entre o criminoso escolher uma casa que tenha luz e uma que não tenha, ele prefere sempre a que está às escuras. Excesso de arborização na frente da casa também é ponto negativo.

Algumas pessoas deixam a luz acesa quando viajam e ela fica ligada o dia inteiro. O certo seria usar um sensor?

Perguntamos isso aos criminosos entrevistados. O item que dá a eles a maior certeza de que a casa está vazia é a luz externa acesa o tempo todo. Se a residência não tem sistema de sensor, o ideal é deixar acesas as luzes internas da casa, que não apareçam do lado de fora. Com as cortinas fechadas, por exemplo, durante o dia não dá para ver que a lâmpada está acesa, mas quando escurece dá.

Quais os cuidados básicos com a arquitetura das residências?

A primeira é visibilidade. Muros altos, arame farpado e cerca elétrica são coisas que, além de não darem a garantia plena da segurança, desfiguram a imagem do imóvel. Quem passa na rua acha que a região é perigosa. Isso tende a reduzir a frequência das pessoas caminhando pela calçada, aumentando o isolamento e facilitando a vida do criminoso. É preciso construir janelas voltadas para a frente do imóvel, caso contrário, deve-se ter o sistema de ''olho mágico''. Se o imóvel for encostado no vizinho, verifique se algum detalhe da arquitetura não vai tornar o acesso fácil para o criminoso. O fundamental é que a segurança da residência seja pensada como um todo. Evite ainda ter portas dos fundos que possam ser vistas da rua e mostrem quem entra e quem sai da casa.

Quais os cuidados em relação à garagem e cestos de lixo?

Qualquer coisa que você encoste na grade do lado de fora pode virar degrau de acesso. As garagens com grades e luz acesa durante a noite são mais seguras. O morador deve deixar o sistema de alarme e as travas do carro ativadas.

É preciso gastar muito dinheiro para ter uma casa segura?

Não. A tônica do nosso trabalho é justamente o contrário. Por isso não recomendamos as câmeras, que são boas, mas são caras e não dão toda a segurança que anunciam. Ao invés de construir uma casa cercada por muros e câmeras, cerque a residência com grades, pois o efeito será o mesmo, além de permitir que você se relacione com os vizinhos, que os conheça e seja conhecido por eles. Estamos propondo parceria com as prefeituras para que processos de urbanização de áreas populares sejam feitos com essa tecnologia. Eles prevêem detalhes como o posicionamento da porta, que deve ficar longe das janelas para dificultar invasão. São itens simples que tanto podem garantir a segurança de um morador humilde como de um condomínio do mais alto padrão.

As plantas ajudam na segurança?

A maioria dos criminosos disse que evita agir nas casas que estejam cercadas por espinhos. A única recomendação que damos é que essa vegetação não agrida quem passa na calçada, sendo mantida aparada.


Folha de Londrina, 08/04/2008.

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