terça-feira, 29 de abril de 2008

DNA confirma paternidade; austríaco pode pegar prisão perpétua

O austríaco Josef Fritzl, 73, que manteve a própria filha presa em um porão sem janelas durante 24 anos, poderia ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado por homicídio por não prestar auxílio a um dos bebês que morreu no cativeiro, informou nesta terça-feira o porta-voz da Procuradoria da Baixa Áustria, Gerhard Sedlacek, segundo a agência de notícias Efe.

Sedlacek afirmou que somente se for culpado por este crime, Fritzl seria condenado à prisão perpétua. Devido aos repetidos abusos sexuais contra a filha, a lei austríaca prevê uma pena máxima de 15 anos de prisão.

Após cumprir essa pena, as autoridades teriam ainda a possibilidade de declará-lo "insano, anormal e perigoso". Com isso, ele poderia ser internado permanentemente em um centro psiquiátrico, acrescentou Sedlacek.

Nesta terça-feira, testes de DNA confirmaram que Fritzl é o pai dos seis filhos ainda vivos que Elisabeth Fritzl, hoje com 42 anos, teve no período em que ficou aprisionada em um porão sem janelas, informou a polícia da Áustria. Ele abusava sexualmente da filha desde que ela tinha 11 anos. Em uma das vezes que Elisabeth engravidou, ela deu à luz gêmeos, dos quais um morreu três dias após nascer.

De acordo com o chefe da Promotoria local, Peter Ficenc, citado pela agência de notícias Reuters, o austríaco está sendo investigado por homicídio por negar auxílio ao bebê. Ele confessou ter queimado a criança logo após ela ter morrido. Ficenc disse também que as investigações estão acontecendo por estupro, incesto e coerção.

Fritzl compareceu a um tribunal em Sankt Pölten, capital da Província da Baixa Áustria, que ordenou que a polícia mantivesse o austríaco detido enquanto a investigação continua.

A polícia também disse que procurou em outras propriedades de Fritzl, mas não encontrou porões sem janela semelhantes ao que ele mantinha sua filha presa.

Caso

O caso veio à tona neste domingo (27), depois de a polícia ter prendido o suspeito e encontrado o porão onde ele mantinha a filha presa.

A investigação começou quando uma das supostas filhas dos dois, de 19 anos, ficou seriamente doente e foi levada ao hospital. Os médicos resolveram, então, apelar para que a mãe da menina aparecesse para fornecer mais detalhes sobre seu histórico clínico.

Elisabeth teria sido aprisionada pelo pai no dia 28 de agosto de 1984, quando tinha, então, 18 anos. Em depoimento à polícia neste domingo, ela disse que seu pai, Josef Fritzl, atraiu-a ao porão do local em que viviam. Antes de aprisioná-la, ele a teria sedado e a algemado.

A polícia disse que uma carta escrita por Elisabeth aparentemente apareceu um mês depois de seu desaparecimento. Ela pedia aos pais que não procurassem por ela.

Libertação

Em determinado momento, Fritzl teria libertado Elisabeth e dois dos filhos que viviam com ela no porão, dizendo à sua mulher que a filha desaparecida desde 1984 havia decidido voltar para casa.

Após ter recebido uma pista, a polícia encontrou Elisabeth e Josef no último sábado (26), perto do hospital onde a filha de 19 anos estava sendo tratada. No dia seguinte, a polícia disse que os investigadores encontraram o local onde Elisabeth ficou aprisionada.

Elisabeth concordou em fazer um relato à polícia após receber garantias de que não teria outros contatos com o pai, que teria abusado dela desde os 11 anos.

Três de seus filhos, com 5, 18 e 19 anos, ficaram trancados no porão desde que nasceram e nunca viram a luz do sol. Os dois mais novos eram meninos e a mais velha, menina. As outras três crianças --duas meninas e um menino-- foram criadas por Josef e sua mulher.

Segundo a polícia, Fritzl também admitiu ter queimado o corpo de uma das crianças, após ela ter morrido logo depois de nascer. Segundo a rede de TV CNN, a criança que morreu era gêmea de outra que sobreviveu.

Porão

Fritzl escondeu a entrada do cativeiro e somente ele sabia o código secreto para a porta de concreto reforçada, disseram oficiais. Algumas partes do local não tinham mais de 1,70 metro de altura.

As fotografias divulgadas nesta segunda-feira mostram uma estreita passagem ligando os ambientes que incluiam uma espécie de cozinha, um local para dormir e um pequeno banheiro com um chuveiro. Um cano fornecia a ventilação. Havia também uma porta à prova de som.

Segundo Elisabeth, nos anos que se seguiram após ter sido aprisionada pelo pai, ela foi constantemente abusada e deu à luz seis crianças. Em 1996, ela deu à luz gêmeos, mas um deles morreu alguns dias depois.

De acordo com a polícia, Josef e sua mulher disseram às autoridades que acharam aquelas crianças em 1993, 1994 e 1997.

O caso, que aconteceu na cidade de Amstetten, relembra o caso da também austríaca Natascha Kampusch que passou oito anos trancada em um cativeiro antes de escapar em 2006.


Folha Online, 29/04/2008.

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