terça-feira, 29 de abril de 2008

Austríaco que manteve filha presa por 24 anos comparece a tribunal





O austríaco de 73 anos que confessou ter mantido a filha em um porão durante 24 anos compareceu na noite de segunda-feira a um tribunal em Sankt Pölten, capital da Província da Baixa Áustria. Josef Fritzl, abusava sexualmente da filha, que teve 7 crianças.

Guenther Moerwald, chefe da prisão de Sankt Pölten, disse que Fritzl "manteve-se calmo" e foi detido em uma cela. Ele deve ficar sob custódia policial durante 14 dias. Após esse período, uma audiência deve decidir se ele permanecerá na cadeia.

O advogado de Fritzl disse hoje que seu cliente "tem um semblante sério, está consternado e emocionalmente destruído". Em declarações à agência de notícias APA, Rudolf Mayer disse que conversou com o acusado durante dez minutos em sua cela.

Mayer disse que ainda não falou com Fritzl sobre as acusações contra ele. "Não tivemos tempo para isso. Primeiro devo estudar a ata de investigação", disse o advogado.

Ele afirmou ainda que a Justiça deve ditar hoje a prisão preventiva para seu cliente, decisão da qual não pretende recorrer. Até a próxima revisão da ordem de prisão, em 13 de maio, o advogado quer estudar se as acusações são coerentes e, depois, será possível "determinar se está justificado um encarceramento posterior".

A filha, Elisabeth Fritzl, 42, contou que o pai a levou ao porão da casa em Amstetten, 120 km a oeste de Viena, em 1984, a dopou e a algemou antes de aprisioná-la no local.

Três de seus filhos --de 19, 18 e 5 anos de idade-- viveram presos no porão desde que nasceram, e nunca haviam visto a luz do dia. As outras três crianças foram levadas pelo pai para viver na casa ao lado de sua mulher, Rosemarie.

De acordo com a polícia, Fritzl admitiu ter queimado o corpo de uma sétima criança em um incinerador, depois de ela ter morrido logo após o parto. Autoridades locais aguardam agora os resultados de exames de DNA para comprovar se Fritzl é mesmo o pai das crianças.

Fritzl manteve a filha e as três crianças em um espaço de cerca de 60 metros quadrados.

Ele havia escondido a entrada do porão atrás de prateleiras, e possuía um código que abria a porta de concreto.

Descoberta

O caso veio à tona depois que a filha de 19 anos ficou gravemente doente devido à falta de oxigênio.

Os médicos pediram que sua mãe comparecesse para dar detalhes de seu histórico clínico.

Fritzl retirou então Elisabeth e as outras duas crianças do porão, dizendo à mulher que a filha havia "reaparecido" e voltado para casa.

Elisabeth concordou em depor à polícia depois de ter garantias de que não teria mais contato com o pai, que abusou sexualmente dela desde que ela tinha 11 anos.

A polícia diz acreditar que a mulher de Fritzl não sabia o que se passava no porão da casa.

Em 1984, ele havia dito à mulher que a filha havia aderido a um culto secreto e deixado três crianças para o casal cuidar.

Ele forçou Elisabeth a escrever cartas pedindo que os pais parassem de procurá-la.

Complexo de poder

Para especialistas, Fritzl sofre de "complexo de poder" e outras desordens psiquiátricas.

Segundo o psiquiatra austríaco Reinhard Haller, ele sofre de "profundo narcisismo" e "necessidade de exercer poder" sobre outros, o que poderia explicar os abusos durante tantos anos.

"Este homem deve ser desequilibrado e se sentir superior aos demais", disse Haller.

Para o psiquiatra forense Sigrun Rossmanith, Fritzl possuía duas personalidades: uma vivida no porão e outra vivida na parte superior da casa.


Folha de São Paulo, 29/04/2008.

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